Após aprovação da tributária, S&P eleva ‘rating’ do Brasil para ‘BB’

Brasília – Em resposta à aprovação da reforma tributária, a agência de classificação de risco S&P Global Ratings elevou nesta terça-feira, 19, a nota de crédito soberano do Brasil de “BB-” para “BB” com perspectiva estável. O país segue no grau especulativo, mas a dois degraus do de investimento, que indica baixo risco de calote.
Para a S&P, a medida aprovada na última sexta-feira “se soma a um histórico reformista desde 2016”. Contudo, a agência espera uma correção fiscal gradual, antecipando que os déficits fiscais vão permanecer.
“Esperamos que as instituições brasileiras continuem a abordar lentamente as ineficiências econômicas que retardam o crescimento do país, assim como a rígida estrutura orçamentária, que contribui para grandes déficits fiscais e uma elevada carga de dívida”, diz.
A agência de rating pontua, ainda, que pode rebaixar a nota brasileira se houver uma deterioração fiscal adicional e um aumento da dívida pública acima do esperado. Por outro lado, assegura que, da mesma forma, pode elevá-la, se as reformas melhorarem a trajetória de crescimento de longo prazo. Em junho, a S&P já tinha indicado perspectiva positiva para a nota do país.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou a elevação da nota de confiança brasileira pela agência e afirmou que a decisão já era esperada e reflete a harmonia entre os Poderes. “Era a última agência a rever a nota do Brasil, a Moody’s e a Fitch já tinham feito isso no meio do ano. Parece que a S&P estava aguardando o desfecho das reformas pelo Congresso. Essa harmonia entre os Poderes, para colocar ordem nas contas, garantir orçamento e programas sociais, as agências percebem que há coordenação em torno de objetivo maior’, disse ontem em entrevista a jornalistas.
Haddad, no entanto, disse não se conformar com o fato de o Brasil não ter grau de investimento, já que não possui dívida líquida em moeda externa e tem mais de US$ 300 bilhões em reservas.
O ministro disse ainda que o país tem o dever de alcançar um ritmo de crescimento “no mínimo” alinhado com a média mundial, mas ressaltou que há potencial para que a economia nacional avance em um ritmo ainda maior se “trabalharmos bem”. Segundo ele, esses dois últimos pontos devem ser o foco da pasta no futuro, mas afirmou que alcançá-los também depende em um trabalho conjunto entre os três poderes.
A S&P ponderou que a perspectiva para a nota é estável porque a expectativa é que o Brasil tenha um progresso lento no enfrentamento dos desequilíbrios fiscais, mas Haddad afirmou que vê no novo marco fiscal uma garantia de equilíbrio das contas públicas, apesar da possível demora em desfazer “anos de dilapidação” da base fiscal do país.
De acordo com o ministro, o crescimento econômico reduzirá distorções fiscais, mas essa recomposição depende de articulações constantes com o Congresso e o Judiciário. “Nós queremos uma trajetória de estabilidade. Estamos construindo isso, mas nós dependemos também do Congresso Nacional, não é por decreto que nós vamos conseguir gerar esse equilíbrio. Então, não é uma coisa que acontece do dia para a noite. São dez anos de déficit primário.”
Selo de bom pagador
O Brasil conquistou o grau de investimento pela S&P pela primeira vez em 2008, mesmo ano em que a Fitch reconheceu o país como um local seguro para investimentos financeiros. Em 2009, conseguiu a classificação pela Moody’s. A S&P também foi primeira a tirar o selo de bom pagador do Brasil, em setembro de 2015, ação que foi seguida pelas outras duas grandes agências internacionais.
A S&P havia rebaixado a nota do Brasil para BB- em 2018. Apenas em junho deste ano, a agência de risco mudou a perspectiva da nota para positiva, indicando que o país poderia melhorar sua classificação. A perspectiva positiva para o país não acontecia desde 2019. À época, a S&P afirmou que o movimento refletia sinais de maior certeza sobre a estabilidade das políticas fiscal e monetária, que poderiam acabar beneficiando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Sem esse grau de investimento, muitos investidores estrangeiros não aplicam mais dinheiro no país ou perdem o estímulo a deixar o dinheiro aqui. Segundo analistas de mercado, historicamente, países costumam levar cerca de 5 a 10 anos para recuperar o selo de país bom pagador.
*Com informações da agência Reuters.
*Sede da Standard & Poor’s (S&P) — Foto: Brendan McDermid/Reuters